A definição atualmente aceite de «Dor», originalmente adotada em 1979 pela IASP – International Association for the Study of Pain (Associação Internacional para o estudo da Dor), foi revista em 2020 e conceitualiza a Dor como “uma experiência sensorial e emocional desagradável associada, ou semelhante à associada, a danos reais ou potenciais nos tecidos”.
Esta definição transmite-nos alguma esperança, uma vez que a principal mensagem é que a dor pode estar presente quando nenhum dano real está a afetar o corpo, ou seja, sentirmos dor não é sinónimo de dano.
A analogia da pedra no sapato
Imagine por um momento que calça os sapatos para fazer uma caminhada, dá os primeiros passos e sente uma sensação desagradável no pé direito. Ao continuar a andar, o desconforto persiste, então tira o sapato e encontra uma pequena pedra. Após tirar a pedra, calça o sapato de volta e continua a andar sem sentir qualquer desconforto no pé. A dor desapareceu e não existe qualquer sinal de dano físico no seu pé. O que aconteceu aqui? A dor foi produzida, motivou-o a fazer alguma coisa (tirar a pedra) e a dor foi resolvida. Não houve dano físico, mas a dor foi produzida.
Isto é um bom exemplo de como a dor é sempre sobre proteção e nunca uma medida precisa de dano tecidual.
Nos últimos anos, a dor tem sido contextualizada como uma experiência individual, subjetiva e multidimensional, naquilo que chamamos de modelo biopsicossocial da dor, o que significa que todas as áreas da nossa vida podem influenciar a nossa experiência de dor.
É subjetiva e multidimensional porque a forma como o nosso cérebro interpreta a dor depende de vários fatores, incluindo o nosso estado geral de saúde física, o nosso humor, os nossos afetos, as nossas crenças socioculturais, os nossos comportamentos e o motivo da dor. É individual porque o conceito de dor molda-se com as nossas experiências de vida.